segunda-feira, 30 de maio de 2011

Exposição Uru ku as disciplinas esquecidas

Há algumas semanas atrás fui convidada pela prefeitura de Viana para conhecer a exposição URU KU As disciplinas esquecidas de Josely Carvalho (fiquei me sentindo a Camila Coutinho agora! kkkkkkkkk).



À pergunta proposta pela residência, Mas, que arte cabe numa cidade?a artista Josely Carvalho respondeu com outra pergunta: “que cheiros cabem numa cidade?” Vale lembrar que o olfato é um sentido quase esquecido em um mundo que engole os tempos, transborda imagens e ruídos, torna tudo veloz e descartável e se revela desprovido das sutilezas que somente os aromas conseguem fazer aflorar.
Pois foi justamente esse o desafio a que a artista se impôs. Numa primeira etapa, durante uma semana, Josely percorreu a cidade de Viana, ouviu histórias da comunidade quilombola de Araçatiba e conversou com os jovens de Marcílio de Noronha. Com as mulheres de Araçatiba, compartilhou histórias, saboreou um soteco, testemunhou a tradição do trabalho artesanal e experimentou o cheiro das ervas aromáticas. Dali, ela colheu galhinhos de ervas e os guardou dentro de um livro que ficou no casarão para a próxima etapa da residência, suas folhas secas cuidadosamente guardadas em meio às páginas.
Até que, num belo dia, o livro brotou. Um galho de boldo, sem mais, nem por onde, resolveu perseguir a luz e renasceu, bem ali. Assim, inadvertidamente, tornou-se o símbolo de uma cidade meio esquecida, fragmentada nas memórias, dividida em geografias esquecidas, rasgadas pela BR 262. Apontou soberano, para além das disciplinas que pareciam empalidecidas e ressecadas.
Pois elas brotaram e tomaram corpo na cor vibrante do urucum. Ou seria do uru-ku, como foi escrito inicialmente na língua tupi-guarani. Esse pó retirado da semente, que tinge tudo de um alaranjado quente, tornou-se uma das grandes metáforas da visualidade capixaba, no olhar e no olfato da artista.
Há muito tempo, a artista, que se divide entre Nova York e o Rio de Janeiro, trabalha uma poética que evoca animais simbólicos: a tartaruga tracajá, que traz seu abrigo nas próprias costas e viaja, representando os percursos traçados pela própria artista; o peixe, aludindo ao mar e às profundezas; e os pássaros, seres tão livres quanto frágeis.
Josely fez do ninho de pássaros um belo retrato sobre o desejo de amor e abrigo, e, ao mesmo tempo, da fragilidade da vida e da inevitabilidade da morte. Uma imagem marcante foi a de um filhote de pássaro morto, caído de seu ninho, encontrado defronte a seu ateliê em Nova York.
Em Viana, o ninho se desconstruiu. Seus galhos, tingidos de urucum, saíram do lugar. O ninho se abriu, se misturou no espaço marcado pela grande tela de vídeo, pronto para configurar novos desenhos e possibilidades de combinação.
Ao trocar informações e idéias com os jovens urbanos de Marcílio, para quem as memórias dos cheiros não falam de passado, mas de um presente pleno de projetos e inovações, surgiu o vídeo “Diário de Campo”. Ali, toda uma riqueza de personagens e experiências se desdobra numa viagem pelos detalhes e delicadezas deflagradas pelos cheiros. São esses diários, esses pequenos inventários que estão contidos nas garrafas, preenchidas pelos habitantes da cidade. As garrafas, testemunhos da memória olfativa de cada um, alimentam o espaço da galeria com a potência da subjetividade. Dão vida a um arquivo morto encontrado perto dali. Fonte: http://arteepatrimonio.wordpress.com/2011/04/01/366/
A exposição está maravilhosa e vale a pena ir até Viana para conhecê-la...
Avenida Florentino Avidos, Centro, Viana, ES
(27) 32551196/32551346
A instalação no segundo piso


2 comentários: